A geração de adultos vem se demonstrando cada vez mais esclarecida e confortável com as questões da sua própria sexualidade. Porém, ao tornarem-se pais, a maioria deles sente aquele frio na barriga e não é raro sentirem-se em reação na hora de enfrentar as questões da sexualidade na infância dos filhos. O assunto ainda é permeado por inúmeros tabus, dúvidas e inseguranças. Geralmente fazem uma associação com fantasias eróticas e ato sexual.
Grande parte das dificuldades e falta de manejo envolvem questões de nossa criação, valores ultrapassados que se perpetuam ao longo de gerações, os quais possuem uma imensa carga cultural. Muitos de nós nunca conversamos sobre sexo com nossos próprios pais, o que dificulta ainda mais o processo de conversar com nossos filhos, porque não temos um modelo de como as coisas devem correr.
Vamos então desconstruir os medos implícitos neste tema falando das fases de desenvolvimento das crianças:
Fase oral: do nascimento a 1 ano
A primeira experiência de prazer que a criança possui na vida é através da sensação oral – começa pela amamentação. Ao longo do crescimento, com mais autonomia, a criança fará descobertas que envolvem prazer através desse sentido, e aí coloca tudo na boca: dedos, chupetas, mordedores, brinquedos, tecidos, entre outros.
Fase anal: de 1 a 3 anos
Durante esta fase, a criança passa a ter noções básicas do seu corpo, explorando o controle da urina e das fezes. Ela sente prazer ao testar sua capacidade de controle sob os pais através da retenção de fezes e urina. É comum que isso seja um mecanismo para receber atenção.
Fase fálica: de 3 a 6 anos
Junto ao desfralde, a criança descobre seu órgão genital e, assim como nas outras fases, explora o prazer que pode sentir através dele. Se trata de uma mera etapa da fase de desenvolvimento da criança, onde o corpo e o prazer são explorados com entusiasmo pelos pequenos, não tendo qualquer ligação com erotismo, promiscuidade ou o ato sexual. O que a criança persegue são as experiências sensoriais de prazer
É na fase fálica que ocorre a masturbação primária. As crianças manipulam seus genitais com as mãos, ou então esfregam-se em brinquedos, balanços, travesseiros, etc. A masturbação significa apenas de uma experiência sensorial de prazer e descoberta de seu corpo, não se assemelha em nada aos desejos dos adultos. Assim como com tudo o que é prazeroso, a criança busca a repetição. O comportamento irá se reproduzir inúmeras vezes.
É comum os pais se preocuparem com esse ato – seria um sinal de que o filho(a) é precoce ou sofreu abuso sexual? A resposta é não! Por ser esperado para a idade, os pais não devem recriminar ou repreender a criança por este comportamento de masturbação. Reações negativas vão impactar diretamente no desenvolvimento da criança e no conceito que ela constrói sobre a sexualidade e prazer.
Apenas sinalize que este tipo de comportamento deve ser praticado em locais reservados, como durante o banho ou quando estiver sozinha em seu quarto. Você estará não só ensinando questões sobre privacidade, como também estará ensinando que a manipulação dos genitais diz respeito à intimidade e se restringem a ela, o que deixa a criança menos menos vulnerável a experiências traumáticas com terceiros.
Além disso, é na descoberta de sexualidade na infância que as crianças começam a perceber as diferenças entre homens e mulheres, demonstrando intensa curiosidade em conhecer o corpo de outros coleguinhas, além de questionar a razão anatômica dos dois sexos. Ela está construindo sua autoimagem. Converse com seu filho sobre as diferenças entre homens e mulheres. Fale que quando chegam à fase adulta nascem pelos, os seios crescem, e que isso faz parte do desenvolvimento do corpo. Explique como bebês vão crescendo, tornando-se crianças, ganhando altura, peso, fale sobre como os cabelos crescem, etc.
E se rolar o assunto “De onde vêm os bebês?”, com a mesma naturalidade que você pode falar sobre o desenvolvimento do corpo e etapas da vida, você pode falar sobre sexo e o tão temido “de onde vem os bebês”. Fale a verdade, mas de maneira simples, sempre se atentando ao que a criança está perguntando. Conte a história da uma sementinha, que o homem tem, e que a mulher tem um ovinho no qual a sementinha é colocada. Responda sempre o que a criança está perguntando, não tente evadir ou confundir. E não minta – você estará contribuindo para a construção de fantasias desnecessárias, estimulando que ela carregue dúvidas e que tenha a sensação de não poder confiar na informação que recebe em casa. Nada de cegonhas, repolhos ou de falar que, ao se masturbar, crescem pelos nas mãos.
Faça uso de material lúdico. Bonecos e bonecas que possuem órgãos genitais, ou barriga de grávida removível, livros infantis que abordem o assunto com ilustrações podem ser um grande apoio nesse período de dúvidas e descobertas. É importante que você faça as leituras e interações junto com seu filho(a), compartilhando sobre o tema e transmitindo tranquilidade.
Converse na escola. Descubra o programa de educação sexual a que seus filhos serão expostos (se isso for uma opção) ou converse com o professor de seu filho sobre o que exatamente será abordado nas aulas. Use informações que a escola está fornecendo para complementá-las conforme necessário, corrigir informações erradas (não presuma que tudo o que está sendo ensinado é preciso!)
Vença suas inseguranças e esteja sempre um passo à frente, tendo como aliados informação e conhecimento. A criança será um reflexo do que você transmitir, por isso, vencer seus próprios preconceitos e dificuldades em lidar com o tema é fundamental. Conheça as etapas do desenvolvimento e quais são os medos que você carrega sobre o assunto, estando seguro e confortável para não ter reações explosivas ou punitivas. Tais experiências podem causar traumas e impactar negativamente no desenvolvimento da criança.
Muitos pais esperam que a hora “certa” apareça para a conversa sobre sexo. Geralmente isso nunca acontece e a conversa vem depois que o filho já se tornou sexualmente ativo, o que é obviamente tarde demais. Quando a criança mostrar interesse pelas partes íntimas do corpo, fale sobre os nomes anatômicos corretos. Explique a diferença entre meninos e meninas. À medida que crescem, você pode falar sobre como os bebês são criados e as mudanças corporais que acontecem durante a puberdade. Mais tarde, você pode abordar práticas de sexo seguro, consentimento sexual. Ou seja, não é um papo único. São necessários muitos momentos, ao longo do desenvolvimento do seu filho, para explicar sobre sexualidade. E muitas vezes o tema virá de curiosidades. Nessa hora, aproveite as dúvidas para orientá-lo da melhor maneira possível, com informações verdadeiras e adequadas para a faixa etária.
E não há uma maneira “correta” de ensinar os filhos sobre sexo. As crianças trazem perguntas embaraçosas, enquanto tentam entender o mundo. Se você está preocupado com o fato de não ter as palavras certas ou de não conseguir descrever muito bem as coisas, leia uns livros para ajudar. A sexualidade humana é complicada e é muito mais do que uma relação sexual entre pênis e vagina. Seu filho quer (e precisa) saber mais do que simplesmente como os bebês são criados, como evitar doenças e como evitar uma gravidez indesejada. Por exemplo, tópicos como orientação sexual, masturbação sexo oral e agressão sexual precisam ser abordados. Mas cada um no seu tempo. Calma!