ANEMIA POR FALTA DE FERRO: VILÃ DO DESENVOLVIMENTO CEREBRAL

anemia ferropriva

Anemia por falta de ferro é a causa mais comum de anemia, a carência nutricional especifica mais prevalente, e é responsável pela desordem hematológica mais freqüente, afetando principalmente lactentes, pré-escolares, adolescentes e gestantes. Esta se caracteriza pela diminuição ou ausência das reservas de ferro.

Anemia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a condição na qual os níveis de hemoglobina (Hb) circulante estão abaixo dos valores considerados normais para a idade, o sexo, o estado fisiológico e a altitude. 

A anemia ferropriva pode ocorrer secundaria a muitas situações como:

  • baixo nível socioeconômico, levando a dificuldade de acesso a alimentos ricos em ferro, e em vitamina C
  • baixa escolaridade dos pais, o que influencia nas práticas relacionadas aos cuidados com a criança (alimentação, higiene, prevenção de doenças…)
  • introdução precoce dos alimentos nos seis primeiros meses de vida, período em que o aleitamento materno deveria ser exclusivo (o que protege o bebê da anemia ferropriva)
  • déficit de saneamento em regiões da periferia, ou áreas rurais, o que leva a aumento da incidência de parasitoses intestinais (esses germes vão competir no intestino do hospedeiro, pelo ferro já deficitário disponível na dieta. Além de causar perda sanguínea intestinal, por infecção local, levando também a anemia)
  • famílias com duas ou mais crianças menores de cinco anos, á que a demanda por alimentos aumenta, assim como diminui os cuidados de saúde e alimentação fornecidos a cada criança
  • o tempo transcorrido entre o parto e o clampeamento do cordão umbilical – com o clampeamento imediato, a criança recebe menos hemáceas e consequentemente menor reserva de ferro, podendo vir a desenvolver a anemia precocemente
  • prematuros e crianças que nascem baixo peso – devido ao crescimento acelerado, há aumento da massa de hemoglobina circulante, necessitando de maior reserva de ferro (o que não há nesses bebês quando comparados a crianças que nascem no tempo certo ou com peso adequado)
  • em crianças que ingerem grandes quantidades de leite de vaca fresco, sendo comum perdas sanguíneas crônicas que espoliam as reservas de ferro do organismo. Crianças que tomam leite em mamadeira têm maior chance de ter anemia do que as que ingerem o alimento em copos. Isso porque a mamadeira facilitaria uma ingestão diária de leite maior do que a necessária, aumentando os níveis de cálcio no organismo. O cálcio dificulta a absorção de ferro
  • a alergia à proteína do leite de vaca pois há perda de sangue nas fezes devido a inflamação intestinal 

A Anemia Ferropriva atinge aproximadamente 1,62 bilhão de pessoas, o que corresponde a 24,8% da população mundial. A OMS estima que metade da população de crianças com menos de quatro anos nos países em desenvolvimento sofrem dessa doença.

Sua relevância decorre não apenas da magnitude de sua ocorrência mas, principalmente, das repercussões negativas que ocasiona no desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo, social e de linguagem. A anemia atua na diminuição da oxigenação no cérebro, alterando os processos de neurotransmissão e de mielinização, podendo gerar consequências permanentes no desenvolvimento das crianças. Seu comprometimento pode ocorrer de maneira irreversível, mesmo quando a suplementação de ferro é oferecida. A deficiência desse mineral no primeiro ano de vida tem efeitos diretos na aprendizagem, na memória e no raciocínio. As crianças anêmicas manifestam mais dificuldades para receber as informações do meio externo e compreender a linguagem oral, piores escores nos testes de inteligência, leitura, escrita e aritmética. Em escolares é particularmente deletéria, pois crianças anêmicas apresentam sonolência durante as atividades e com isso a sua atenção fica prejudicada levando ao baixo rendimento escolar.

Outras consequências relacionadas a anemia também devem ser discutidas, como:

  • a interação da mãe com o seu filho pode ser pobre se a criança é letárgica e pouco responsiva, em especial quando a mãe for pouco estimulante
  • pode haver alterações no crescimento (peso e estatura)
  • pode levar a infecções de repetição devido a disfunção das células de defesa

Por isso é importante a suplementação profilática de ferro nas gestantes e em crianças entre 6 e 24 meses. É a faixa etária de maior risco para a anemia. A demanda de ferro é aumentada na criança menor, devido ao crescimento e desenvolvimento acelerados. Além disso, a dieta das crianças nessa faixa etária tende a ser mais monótona, favorecendo o baixo aporte de ferro.

A AAP orienta a investigação de anemia ferropriva entre 9 e 12 meses de idade. Não realizar a avaliação até duas ou três semanas após um processo infeccioso, já que infecções comuns na infância, como diarréia e infecções respiratórias, frequentemente estão associadas com uma redução na produção da hemoglobina e na absorção do ferro. Se anemia ferropriva for identificada, é preciso tratar pelo menos por 3 meses com doses maiores que as utilizadas para profilaxia da doença. A introdução do ferro deve ser gradual para evitar os efeitos colaterais (náuseas, vômitos, dor epigástrica, cólicas abdominais, constipação intestinal ou diarréia e flatulência). Recomenda-se que o ferro terapêutico seja oferecido acompanhado de suco rico em vitamina C, para facilitar a absorção.

Além do tratamento medicamentoso, são fundamentais a orientação alimentar e o tratamento de situações especificas que possam estar envolvidas na determinação da doença, tais como erro alimentar, alergia alimentar, parasitoses, refluxo gastresofágico e infecções, entre outras. Dependendo do estágio em que a carência do mineral ocorre, ou quanto mais precocemente essa deficiência nutricional é corrigida, maiores são as oportunidades de reverter os efeitos adversos decorrentes dessa alimentação.

A melhor arma para prevenção de anemia ferropriva é sem dúvida, uma alimentação bem variada, rica em alimentos que naturalmente possuem ferro, e os enriquecidos ou fortificados com o nutriente, como fígado e carne de qualquer animal, leguminosas, grãos integrais ou enriquecidos, nozes, castanhas, rapadura, açúcar mascavo, hortaliças (couve, agrião, taioba, salsa), acerola, abacaxi, goiaba, laranja, pimentão, repolho, tomate, dentre outros.  

O controle da anemia deve ser alvo da preocupação da saúde visando evitar que as crianças sejam vitimas dessa deficiência nutricional e se transformem em indivíduos com baixa escolaridade e produtividade quando adultos causando perdas de recursos humanos com conseqüências econômicas e sociais para o desenvolvimento da nação. Não se pode desprezar o custo indireto da deficiência de ferro na infância, a qual tem conseqüências irreversíveis sobre o desenvolvimento cognitivo e sobre a produtividade durante a vida adulta. A intervenção é muito importante para a população, como a fortificação de alimentos habituais, o estimulo ao aleitamento materno exclusivo e prolongado até os 2 anos de idade, a suplementação medicamentosa e a alimentação adequada nutricionalmente desde muito cedo.

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