Cuidar e educar os filhos não é uma tarefa nada fácil. Lidar com as birras é um desafio para os pais. A birra é um comportamento comum em uma fase do desenvolvimento das crianças — quando elas ainda são muito pequenas e não conseguem argumentar. São aquelas famosas crises de choro e raiva que a criança demonstra, geralmente porque deseja muito alguma coisa e não pode ter. Às vezes essas crises são para chamar a atenção. E tudo piora quando estão cansadas, com fome ou chateadas. No entanto, é preciso diferenciar birra de Transtorno Opositor Desafiador, em que o comportamento agressivo se torna desproporcional…  

As birras começam por volta dos dez meses e geralmente acabam bem antes de atingir os 4 anos de idade. Trata-se de um comportamento normal, que faz parte do seu processo de maturidade. Nessa fase, ela não tem meios estruturados para discutir e argumentar com o adulto. Então levará um tempo para a criança entender o que é certo e errado.

Já a criança com TOD (transtorno opositor desafiador) não consegue elaborar bem situações em que é contrariada e o quadro não se modifica com o tempo (sem intervenção), como ocorre com a birra – ela tende a piorar. Esse comportamento inadequado dura mais de 6 meses. De modo geral, as alterações comportamentais iniciam-se por volta dos 4 a 6 anos, sendo mais prevalente O TOD é mais prevalente no início da pré-adolescência e adolescência entre 8 a 11 anos, com posterior melhora. Porém, há casos que seguem até a vida adulta.   

As causas do TOD ainda não foram bem definidas. Estudos mostram que o cérebro de quem tem TOD apresenta uma instabilidade nas áreas de autorregulação emocional para cumprir atividades que não são do seu desejo e o indivíduo acaba tendo desequilíbrios, levando a comportamento disruptivo. O ambiente social e familiar são importantes causadores do problema, como quando a criança não tem uma rotina de disciplina ou que não foi ensinada a se frustrar. São frequentes os problemas envolvendo relacionamento social, condições escolares, formas como a família assume e educa a criança, violência doméstica, comportamentos agressivos no campo familiar, situações estressantes. Os modelos de criação parental extremista, ou seja, pais muito permissivos ou opressores, também podem ser fatores facilitadores.  

Quando suspeitar de TOD:

Existem três comorbidades frequentemente associadas ao diagnóstico de TOD, que inclusive intensificam seus sintomas e devem ser tratadas em conjunto:

O reconhecimento médico precoce do TOD é imprescindível para que o problema passe a ser administrado e a criança ou adolescente ganhe mais qualidade de vida. Quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, melhor será o prognóstico. Todo tratamento é multidisciplinar, e cada paciente é único e necessita de acompanhamento específico.

O tratamento depende de três eixos: medicação, psicoterapia comportamental e suporte escolar:

É preciso evitar chegar (sem acompanhamento) na adolescência. É muito mais fácil intervir antes dessa fase, porque os jovens são naturalmente opositores. O transtorno aumenta o risco de delinquência, de envolvimento com más companhias, de uso de drogas e iniciação na criminalidade, além de fugas de casa. Se for feito um trabalho até os 9, 10 anos, evita-se que essas situações venham a acontecer.

Não existe um tempo de tratamento preestabelecido: tudo vai depender da gravidade do quadro, de patologias associadas e da disponibilidade da família em implantar as mudanças. Não se fala em cura, pois alguns quadros na infância e na adolescência podem persistir na vida adulta, trazendo grandes prejuízos, ou evoluir para o Transtorno de Conduta, que é uma condição mais severa que o TOD. O que se espera com o tratamento é um controle dos sintomas e uma melhor adaptação social e escolar. A família também tem seu papel e, embora sensível, também precisa se mostrar firme. Existem coisas que não podem ser negociadas.  

Com a dedicação da família, a parceria da escola, o empenho no tratamento e, quem sabe, um olhar mais compassivo da sociedade, o TOD não precisa ser um empecilho para a concretização de objetivos e uma vida enriquecedora

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