INSÔNIA INFANTIL

 

Insônia infantil é um distúrbio do sono comum na infância, em que a criança apresenta dificuldade para iniciar ou manter o sono.

QUAL MÉDICO PROCURAR EM CASO DE INSÔNIA INFANTIL?

O médico Pediatra é um médico especialista no sono infantil.

Dra Bruna de Paula é uma médica pediatra que trata distúrbios do sono infantil.

Dra Bruna de Paula atende em consultório próprio em Vitória, Mata da Praia, e na Serra, Laranjeiras. Acompanha crianças desde o nascimento até a adolescência e orienta famílias sobre higiene do sono adequada para evitar agitação noturna infantil e insônia infantil.

Dra Bruna de Paula – Pediatra

COMO ACONTECE O SONO INFANTIL

Até os 3 meses de idade, os bebês apresentam um padrão ultradiano de sono, ou seja, a produção do hormônio de sono, a melatonina, acontece de forma irregular ao longo do dia. Eles geralmente acordam devido a fome ou desconfortos, e não por que é dia ou noite.

Durante o primeiro ano de vida ocorre maturação cerebral levando a um ciclo circadiano melhor estabelecido aos 12 meses de idade. Como consequência, o número de despertares noturnos reduz-se gradativamente – enquanto um bebê de 1 mês desperta de 2 a 3 vezes por noite, um bebê de 12 meses não costuma acordar mais que 2 vezes. Mas os despertares breves a cada ciclo de sono (90 a 120 minutos) continuam acontecendo e a criança geralmente volta a dormir sem intervenção externa.

À medida que vamos crescendo, a necessidade de sono vai reduzindo:

  • os recém-nascidos necessitam de 16 horas de sono diárias
  • por volta de 6 meses os bebês dormem 14-15 horas
  • aos 2 anos por volta de 12 horas diárias
  • os adolescentes dormem por volta de 8 a 10 horas diariamente.

Nos primeiros anos de vida, a necessidade diária de sono é distribuída ao longo do dia em pequenas sonecas:

  • nos primeiros 12 meses de idade, é comum os bebês realizarem cochilos de manhã e à tarde
  • após 1 ano, eles necessitam 1 a 2 cochilos durante o dia, que duram 90min a 2h.
  • após os 5 anos de idade, as sonecas diurnas não são mais necessárias

As sonecas vão desaparecendo até os 5 anos de idade, sendo a soneca da manhã a primeira a desaparecer. A persistências das sonecas além dos 5-6 anos de idade pode interferir no período de sono noturno.  

DISTÚRBIOS DO SONO NA INFÂNCIA

Para que a rotina diária da criança aconteça de forma organizada e proveitosa, é imprescindível uma boa rotina noturna de sono. Todos nós precisamos de momentos de descanso, de um sono reparador. É durante o sono que a criança realiza conexões cerebrais para transformar experiências em aprendizados, para organizar informações adquiridas e colocar na memória, para equilibrar nosso organismo de uma forma que somente uma boa noite de descanso consegue fazer.

Os distúrbios do sono são comuns na faixa etária pediátrica. Estudos demonstram que por volta de 30% das crianças já vivenciaram ou vivenciam alguma alteração do sono. Sendo pior na fase dos lactentes, em que até 40% dos bebês não apresentam um sono adequado, reparador.

Não dormir o período adequado de sono traz consequências a curto e longo prazo para o ser humano. A privação de sono por si só aumenta o risco de alterações metabólico-comportamentais como obesidade e doenças cardiovasculares, déficits de atenção, hiperatividade, agressividade, labilidade emocional, alterações do neurodesenvolvimento, déficit cognitivo com prejuízo no aprendizado escolar, além de déficit de crescimento por produção inadequada do hormônio de crescimento.

Os principais diagnósticos de distúrbios do sono da criança são:

1. Insônia

A insônia, que é dificuldade de início ou manutenção do sono, despertar mais cedo que o desejado, resistência para o início do sono, ou dificuldade em iniciar o sono sem a intervenção dos pais ou cuidadores em um ambiente propício para o início do sono (sem televisores, smartphones ou tablets sendo utilizados no horário de dormir). É o distúrbio do sono mais prevalente na faixa etária pediátrica. Ela é suspeita quando a criança apresenta sonolência ou irritabilidade diurna, alterações do desempenho escolar ou ocupacional, da capacidade intelectual.

As causas mais prevalentes de insônia de acordo com a faixa etária são:

 

    • 0 a 2 anos: associação do sono, doenças do trato gastrointestinal (refluxo gastroesofágico, alergia alimentar como alergia ao leite de vaca, cólica), excesso de liquido (maior necessidade de trocas noturnas de fralda), infecções de repetição, doenças crônicas

    • 2 a 3 anos: associações de sono, medos ou fobias, cochilos em horários ou por período inadequados, infecções de repetição, doenças crônicas, ansiedade de separação

    • 4 a 11 anos: falta de limites, medos ou pesadelos, infecções agudas, doenças crônicas

    • 12 a 18 anos: atraso de fase sono-vigília, higiene de sono inadequada, excesso de atividades extracurriculares, problemas escolares / excesso de cobrança familiar, distúrbios respiratórios do sono, infecções agudas, doenças crônicas, problemas comportamentais / psiquiátricos

Um tipo de insônia comportamental muito comum é o distúrbio de associação de início do sono. Mais frequente nos lactentes e pré-escolares. Ele se caracteriza pela necessidade de intervenção dos pais ou cuidadores para que a criança inicie o sono como o colo ou amamentação. Assim, a cada ciclo de sono, quando ocorre um despertar fisiológico, os pais precisam repetir o procedimento para que o sono seja retomado. Para a resolução desse problema é preciso uma adequada higiene do sono e algumas vezes terapia comportamental.

2. Distúrbios respiratórios relacionados ao sono

Uma causa comum de distúrbio de sono infantil é a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) causada por hipertrofia da adenóide e / ou amígdala. Há obstrução parcial ou completa das vias respiratórias durante o sono, levando a apnéias noturnas (pausa respiratória). A suspeita acontece quando a família reclama que seu filho ronca a noite, dorme de boca aberta, respira pela boca durante o dia, além de apresentar sonolência, déficit de atenção ou irritabilidade / agressividade diurnas. Outra causa comum é a rinite alérgica e obesidade.

A polissonografia é realizada para melhor avaliação da gravidade do quadro. Muitas vezes é indicado adeno-amigdalectomia (retirada cirúrgica de adenoide e amigdalas). Se for rinite alérgica, é indicado tratamento com corticoide nasal. Para obesidade, atividade física e dieta com acompanhamento nutricional adequado. 

3. Hipersonias de origem central

Hipersonia é o sinônimo de sonolência diurna excessiva, necessidade irresistível de dormir, um cochilar involuntário mesmo em locais inadequados como trabalho, sala de aula, direção de um carro ou máquina. 

A narcolepsia é um distúrbio de sono incomum que se apresenta por hipersonia. Há duas formas de apresentação: com ou sem cataplexia (perda da força muscular das pernas, tronco ou pescoço), sendo a primeira forma mais comum.  Em crianças menores de cinco anos, seu reconhecimento é difícil devido ao hábito comum de cochilar nessa faixa etária. No escolar, a clínica é mais evidente e há aumento da frequência e duração dos cochilos.

O diagnóstico da narcolepsia é feito pela polissonografia e o tratamento requer medicação, além da realização de cochilos programados durante o dia.

4. Distúrbios do ritmo circadiano de sono e vigília

O ciclo vigília-sono é o modo de funcionamento cerebral em que na vigília estamos cientes do que está acontecendo, e usamos nossos sentidos para nos comunicar com o ambiente ao nosso redor, e no sono estamos dormindo, mas nosso corpo continua realizando várias atividades importantes para seu funcionamento. Um bom descanso é fundamental para um período de vigília saudável. 

Como exemplos de distúrbio do ciclo sono-vigília temos o atraso de fase (quando a criança dorme tarde e não consegue acordar cedo pela manhã), avanço de fase (a criança tem uma necessidade incontrolável de iniciar o sono a tarde mas acorda de madrugada e não consegue dormir), ritmo irregular do sono (não há um parâmetro que o relógio biológico siga para marcar as etapas – um dia há atraso de fase e outro dia há avanço de fase).

O atraso de fase é muito comum no adolescente. Uma orientação é atrasar o horário de ir para cama para garantir um adormecer mais rápido. Quando isso se consolidar, inicia-se a antecipação do horário de dormir em 15 a 30 minutos em noites sucessivas, até atingir o horário adequado.

5. Parassonias

As parassonias são distúrbios do sono que se caracterizam por experiências, comportamentos ou eventos psicológicos anormais, que podem ocorrer em várias fases do sono. O sonambulismo, terrores noturnos, pesadelos e enurese noturna são exemplos de parassonias.

Geralmente não tem uma causa especifica além da imaturidade cerebral, não trazendo prejuízo neurológico para as crianças, bastando tranquilizar os pais. Mas em alguns casos podem refletir algum estresse ou ansiedade vivida no dia a dia, sendo muito importante sua identificação e resolução.

Para enurese noturna, que é a perda involuntária de xixi durante o sono, é orientado evitar ingesta hídrica 2h antes de dormir e o esvaziamento de bexiga antes de dormir. Existe um alarme que detecta a eliminação de pequena quantidade de urina e assim desperta a criança para evitar perda de maior volume urinário na roupa.

6. Distúrbios do movimento relacionados ao sono

São caracterizados por movimentos repetitivos, e geralmente simples, mas com força suficiente para atrapalhar a qualidade do sono.  Para exemplificar, temos a síndrome das pernas inquietas, distúrbio do movimento periódico dos membros, bruxismo e câimbras noturnas. O tratamento depende do distúrbio identificado.

O manejo dos distúrbios do sono varia conforme a etiologia e, por vezes, o grau de comprometimento clínico da criança. Alguns diagnósticos, como as mioclonias benignas e os movimentos rítmicos ao adormecer, não necessitam de tratamento específico, pois tendem a cessar com o crescimento e o desenvolvimento.

COMO MELHORAR O SONO INFANTIL

Um denominador comum no manejo dos distúrbios do sono, desde os mais simples até os mais complexos, são as estratégias comportamentais e higiene do sono. Muitas vezes mudanças simples na rotina da criança, como horário regular de início de sono, evitar ingesta de alimentos estimulantes no final do dia, ritual de sono entre outros são suficientes para garantir uma noite de sono adequada.

O pediatra deve estar familiarizado com essas técnicas para orientação e supervisão das famílias. Durante o acompanhamento regular infantil., no consultório, algumas abordagens são realizadas para organização do sono da criança:

 

    • organizar os cochilos para que ocorram 4 horas antes do horário do sono noturno entre crianças que realizam duas sonecas por dia, e 6 horas antes para as que realizam uma soneca diária.

    • regular o relógio biológico da criança diferenciando bem dia e noite: durante o dia, manter o ambiente claro, sons normais da casa, e à noite, reduzir o ritmo e as luzes

    • oferecer o jantar pelo menos 2 horas antes de ir para cama e evitar alimentos e bebidas estimulantes, como chocolate, refrigerante, cafeinados ou chá-mate

    • realizar um banho morno e massagem relaxante antes de dormir e evitar brincadeiras agitadas e telas pelo menos 1 hora antes de dormir

    • iniciar o sono na própria cama desde os primeiros meses de vida, sem necessidade de intervenção dos pais, de forma a evitar associações para o início do sono. Levar a criança para a cama ainda acordada para fazer o ritual do sono, ficando por perto.

    • ter um mesmo horário para dormir e para despertar todos os dias, lembrando que a criança dorme mais horas do que os pais à noite

    • realizar um ritual de sono diário como banho morno, ler histórias, cantar músicas calmas, fazer uma massagem ou uma oração. O importante é que sejam momentos agradáveis e relaxantes que marquem que é hora de dormir

    • no caso dos bebês, ter a rotina para os cochilos do dia também é importante: o ideal é que sejam curtos e não muito no fim da tarde para não atrapalhar o sono noturno

    • precisa-se de rotina para tudo: para dormir e acordar, horário de refeições e de brincar, e os horários de final de semana não podem ser diferentes daqueles de durante a semana.  

 

Sempre realizar um banho morno no ritual do sono noturno.

CONCLUSÃO

Os distúrbios do sono são heterogêneos em relação a seus fatores causais, apresentação clínica e morbidade, tornando o conhecimento de aspectos fisiológicos do sono e dos distúrbios mais prevalentes imprescindível para a orientação e manejo adequados da família.

Apesar do exame de polissonografia noturna ser considerada o padrão-ouro no diagnóstico dos distúrbios do sono, o médico pediatra exerce um papel fundamental no processo diagnóstico, por meio da suspeição clínica e, quando necessário, encaminhamento para avaliação especializada. Para tanto, uma anamnese que inclua perguntas sobre a rotina e detalhes referentes ao ambiente familiar relacionados ao sono da criança, além de um exame clínico detalhado, devem fazer parte da anamnese de rotina do médico pediatra.

O médico pediatra tem papel fundamental na orientação sobre hábitos de sono, assim como no reconhecimento, suspeição e manejo dos possíveis distúrbios. Proporcionar uma rotina e ambientes relaxantes para o sono traz benefícios não só para a criança, mas para toda a família.

Não existe uma receita para fazer bebês e crianças dormirem. Mas a criação de uma rotina com rituais de sono ajuda muito a reduzir a ansiedade e a expectativa na hora de dormir, tanto para a criança quanto para a família. O papel dos pais ou cuidadores nessa hora é transmitir segurança e um ambiente favorável ao relaxamento.  

Pediatra Vitoria

Dra Bruna de Paula – Pediatra

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