No Brasil, a pele bronzeada é considerada sinal de saúde e beleza. A exposição solar é benéfica no tratamento de diversas doenças e na síntese de vitamina D. Porém, quando prolongada e frequente, pode resultar em danos na pele que incluem o fotoenvelhecimento e o câncer cutâneo, sendo importante discutir a proteção solar.
No Brasil, estima-se que ocorram mais de 100 mil novos casos de câncer de pele por ano, número que deve estar subestimado. Nos Estados Unidos, são mais de 1,2 milhão de novos casos ao ano, dos quais estima-se que cerca de 10 mil resultem em morte. O alarmante aumento da incidência de câncer de pele nas últimas décadas parece estar relacionado à mudança dos costumes em relação à exposição solar e aos fatores ambientais. As pessoas ficam expostas ao sol por maior tempo e frequência. Além disso, os desequilíbrios ecológicos, como a redução da camada de ozônio, que funciona como filtro da radiação ultravioleta, colaboram para o aumento dos riscos. Por esses motivos é tão importante a fotoproteção.
Em condições normais, durante a vida de um indivíduo, a maior exposição ao sol ocorre na infância e na adolescência. Por esse motivo, é imperioso que se inicie a proteção solar desde os primeiros anos de vida, pois, sob circunstâncias normais, as crianças se expõem anualmente ao sol 3x mais que os adultos, em razão das múltiplas atividades ao ar livre. O mesmo ocorre com os adolescentes, que muitas vezes se bronzeiam excessivamente, sem se preocupar com os riscos.
No verão, coincidente com as férias escolares aqui no Brasil, é muito comum as crianças ficarem mais expostas ao sol em áreas abertas, brincando e se divertindo, e, dessa maneira, passam a ser mais frequentes alguns agravos à saúde infantil, como: queimaduras solares, insolações e desidratação por ingestão inadequada de água, com aumento do consumo de refrigerantes e sucos artificiais, que não favorecem a hidratação adequada da criança.
O sol é fonte de energia e é importante na metabolização da vitamina D; portanto, sua exposição deve ser estimulada também em crianças, mas com cuidados, já que é necessária a radiação ultravioleta B para essa metabolização, que está presente nos horários de pico de radiação solar (entre 10h e 16h).Há relação entre queimaduras solares e exposição solar muito intensa e intermitente (comum na infância) com o desenvolvimento de câncer de pele. O uso dos protetores solares, durante os primeiros 18 anos de vida, tem demonstrado prevenir o surgimento do câncer de pele em até 78%.
Como escolher o protetor solar adequado:
– Dos 6 meses aos 5 anos de idade, recomenda-se o uso dos filtros infantis, que geralmente contêm menos substâncias químicas prejudiciais à pele da criança. Costumam ser mais espessos e possuir coloração esbranquiçada ou rosada.
– O filtro solar ideal deve ter amplo espectro (bloquear tanto radiação ultravioleta A quanto ultravioleta B), ser fácil de espalhar e ser resistente à água. Não existem filtros totalmente à prova d´água. Eles devem ser reaplicados depois de entrar na água ou quando a criança suar muito, sempre secando bem a pele antes de reaplicar o protetor
– Geralmente os filtros acima do número 15 fazem uma proteção razoável por até 2 horas, sendo ideal o uso de filtros com proteção 30 ou superior. Filtros com número 30 ou maior apresentam a mesma eficácia na proteção ao sol, diferindo apenas no tempo de reaplicação.
Abaixo trago algumas orientações para uma adequada fotoproteção:
1) Os filtros solares são substâncias capazes de reduzir os efeitos deletérios das radiações ultravioleta sobre a pele. Há dois tipos de filtros solares: químicos e físicos. Filtros químicos (absorvem as radiações ultravioleta, impedindo sua ação na pele): creme, loção, óleo, álcool ou gel. Filtros físicos (formulações que refletem e espalham a luz ultravioleta): dióxido de titânio e óxido de zinco; indicados para crianças de 6 meses a 2 anos de idade e para crianças atópicas. Para crianças entre 6 meses e 2 anos, a fotoproteção deve ser feita também com o uso de filtros físicos (protetor de barreira), mais seguros nessa faixa etária.
2) A quantidade recomendada de filtro solar aplicado na pele é a quantidade suficiente para que se consiga ver o creme na pele. O uso em menor quantidade protege a metade do FPS. O FPS indicado no protetor solar geralmente representa uma proteção menor do que a esperada, pois, habitualmente, aplica-se menos do que a metade da quantidade recomendada. Além disso, os mais opacos e em veículo cremoso protegem mais.
3) Protetor solar com veículos alcóolicos e géis podem irritar a pele, causar ardência nos olhos e conferir menor grau de fotoproteção por menor adesão a pele, não sendo muito recomendados na infância.
4) Durante exposições solares prolongadas (praias, clubes, piscinas), é preciso usar chapéus e roupas adequadas e procurar deixar a criança na sombra ou sob o guarda-sol pelo maior tempo possível. Para as crianças maiores e adolescentes, é recomendado também o uso de óculos de sol, os quais devem ser testados para avaliar a sua eficiência contra os raios ultravioletas. Use sempre guarda-sol, bonés, óculos, viseiras ou chapéus. Cerca de 70% dos cânceres de pele ocorrem na face
5) Aplique generosamente o filtro solar 30 minutos antes de se expor ao sol. Este é o tempo necessário para a estabilização do protetor solar na pele, de modo que sua ação seja mais eficaz.
6) O fotoprotetor deve ser reaplicado a cada 2-3h e sempre que houver imersão em água ou sudorese excessiva. Aplicar em toda a superfície da pele exposta ao sol, sem esquecer de pescoço, pavilhão auricular e dorso das mãos e pés. Aplicar fotoprotetor labial frequentemente.
7) Crianças devem evitar exposição solar entre 10 e 16h. Mesmo em dias nublados e sob o guarda-sol há radiação ultravioleta. Areia, neve, concreto e água podem refletir de 40 a 85% dos raios lesivos a pele. Pesquisas indicam que a exposição cumulativa e excessiva durante os primeiros 10 a 20 anos de vida aumenta muito o risco de câncer de pele
8) Crianças até os 6 meses de idade não deve ser exposto ao sol nem usar protetor solar. Se não for possível evitar, usar protetor de barreira como chapéus, viseira, guarda-sol, roupas leves e claras.
9) Roupas podem ajudar na proteção ao sol, mas fique atento ao seguinte: diferentes tecidos conferem proteções diferentes. Camisetas de malha branca e tecidos molhados ou com tramas largas, protegem menos. Tecidos de trama mais fechada e cores escuras protegem mais. Lembre-se que existem tecidos que contêm substâncias fotoprotetoras.
10) As luzes usadas nas câmeras de bronzeamento artificial podem causar queimaduras de pele e problemas nos olhos, fazendo com que as rugas apareçam mais cedo e aumente o risco de câncer de pele.
11) Use sempre a regra da sombra para saber se está se expondo em horário perigoso: ou seja, quanto maior a sua sombra refletida no chão, melhor.
O efeito da radiação é acumulativo. A luz solar recebida desde a infância até a idade adulta só mostrará seus efeitos a longo prazo, com o envelhecimento precoce e o potencial surgimento do câncer. O principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pele é a radiação ultravioleta (UV), sob exposição precoce e intensa durante a infância. É preciso mudança na atitude dos pais em relação aos cuidados com a exposição solar, o que acarretará, consequentemente, em mudança de atitude das crianças e dos adolescentes, que devem ser estimulados a fazer a fotoproteção independente dos adultos.